UTOPIA
tec - tec- tec - tec (...)
O barulho da maquina de escrever soava no corredor, mãos dadas com a despedida daqueles momentos que vivera uma utopia que lhe confortava o coração.
o sol invadia a sala e a mesa onde se encontrava no momento, branca, talvez pálida; iluminava as pupilas que observava a tinta sobre o papel, o contorno das letras.
Diversas questões lhe invadiam o coração, inclusive do porque existirem palavras que não são praticadas; estas que lhe refrescaram na memória momentos de precisão que algumas delas partissem de outras direções ao seu encontro, mas não partiram....
Já havia lamentado o bastante pra questionar o porque das despedidas acontecerem sempre como se um pedaço lhe fosse arrancado, ou do porque de em todos os seus desequilíbrios ir com a cara de encontro ao chão porque a rede protetora foi retirada...os moveis rústicos traziam uma certa nostalgia, assim como a lembrança das milhares de palavras e maçãs divididas.
Era assim que ultimamente sentia a presença das pessoas que outrora estimava, como o vento ou a poeira na escrivaninha, espalhada, longe, distante, morno...
Mas não tinha importância, pensava.
Era uma nova utopia, uma forma de se consolar, porque sempre sobreviveu a todas as quedas, a todas as guerras sozinha, essa era só mais uma.
Só mais uma de muitas que estavam por vir...
Mas não suportava pensar que a profundidade só existe no ser humano nos momentos de escassez material; é uma profundidade dolorosa, algo em que se refugiam, assim como um órfão precisa de carinho materno, ou um mendigo de pão. Uma profundidade entalada que é cuspida, dispensada logo que os bens são chegados.
Não suportava, mas superava...
Presenciou tantas lágrimas e dores, porém os sorrisos se abriam ao longe. Distantes.
Ah! Imaginou também o quanto um ato mesquinho matava uma flor: de secura, de poluição, de frieza.
tec - tec - tec - tec (...)
Mas ouviu dizer: "Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também."
Tinha tantas coisas por fazer que tirou aquela folha da máquina amassou e jogou no lixo ao lado, com meio sorriso pensou ironicamente: a profundeza superficial nas profundezas verdadeiras.
Saiu, pois já estava atrasada.
Ana Mais do Que Nunca
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