NAVALHA

Do contato uterino à tempestade,
as águas se movimentavam bravas e frias,
batiam nas pedras, no coração, na alma embalada no úmido travesseiro.
maldita secura, demoníaca brancura que tira os sentidos do vazio,
inóspita satisfação.
A força levando mais para o fundo os sentidos abalados pelo medo,
medo grande acolhedor que sutilmente sufoca,
torce o pescoço e passa lentamente pelos pulsos a fita vermelha e fina que escorre,
escorre dentro,
veloz e destruidora,
um impulso ao penhasco.
Esquecimento.
vago e completo esquecimento da lucidez,
dos amores, das quenturas.
a carne apodrecida,
esquecida no canto da sala,
golpeada até não mais sangrar.
o caminho de perdição já marcado pelos canais programados pela vontade de querer mais,
muito mais.
fere.
aprofunda as garras no pescoço.
acelera,
acelerando bate contra outras almas desarmadas sem nada querer além do céu, do véu.
Não há.
essa navalha cortando por dentro e por fora expondo o sangue podre ao sol,
claustrofobia na multidão de pensamentos dilacerados na sala vazia,
gelada.
um atropelamento enquanto o sorriso preenchia o rosto infantil.
os olhos fartos das promessas inúteis forçadas.
a bipolaridade.
a esquizofrenia.
as mãos trêmulas, o corpo louco que estraçalha a cabeça de pensamentos amanhecidos,
amassados.
felicidade torturada, torcida num balde de cândida,
manchada,
apagada.
Um gosto amargo que para na glote, escorre na face.
do amor à fria e estúpida tempestade.
da esperança à tortura e dor.
O corpo lançado ao embaraço dos momentos de navalhas,
Que dilaceram tudo que é torpe e sincero demais.

Ana mais do Que Nunca

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