A MULHER SPA
Eu chegava em casa e
ela estava me esperando com seu kit salva vidas: felicidade extrema, alta
disposição pra topar qualquer que fosse a coisa que eu estivesse a fim de fazer
(incluindo, muitas vezes, porra nenhuma) e infinita capacidade para o silêncio.
Não tinha nada disso de “me contar o dia”, ela guardava, sábia e tão misteriosa, sua enfadonha rotina para si. Às vezes, só para testar se era isso mesmo, se eu era mesmo esse cara sortudo que acertou na mega-sena, eu perguntava: “como foi seu dia”. Como se eu me beliscasse pra ver se estava sonhando, sabe? E ela, preguiçosa, sabendo profundamente como manter uma relação saudável e plena, só balançava a cabeça, em desacordo com a pergunta: “o de sempre”.
Sim, mil vezes sim, os dias de todas as mulheres que eu tive eram sempre “o de sempre” mas todas sempre me contaram detalhes insuportáveis e longos desse sempre, sempre, todos os dias, pra sempre. E sempre acabava em choro, traição, culpa. Mas era isso ou assassinato.
Nani transformou toda e qualquer mulher em megeras histéricas com matracas incontroláveis. Eu via fêmeas de todas as idades, credos, cores e tamanhos pelas ruas e supermercados e restaurantes e no trabalho, e pensava: inimigas. Todas, com suas vozes infinitas em looping: inimigas extremas. Apenas Nani: deusa. Apenas Nani: eterna. Fui ininterruptamente fiel por longos oito meses.
Nani não puxava assunto, como todas. Não discordava apenas pelo prazer em deixar claro que concordar com um homem era passividade, como todas.Não saia do cinema tentando intelectualizar milhares de sentimentos, como todas. Cinema era pra sair quietão, só sentindo o momento. E Nani, tal qual um melhor amigo com vagina, sabia todos os segredos para agradar um homem em sua essência.
Um dia, eu estava angustiado. Eu queria falar com alguém, eram já 32 semanas no mais completo silêncio. Na mais completa harmonia. Eu nunca tinha sido tão feliz mas, naquele dia, naquela misero dia, eu estava angustiado por alguma razão e precisava falar. E perguntei pra Nani algo como “o que você acha?”. Eu não sabia exatamente ao que me referia. Ou melhor, eu sabia: a tudo. Sabe tudo? Essa merda toda: o que você acha dessa merda toda? Geralmente angustia é isso né? Você procura uma palavra que acalme e/ou defina a porra toda e como ela não existe você bebe ou toma Rivotril.
Nani, pra me agradar, tadinha, tentou falar. Mas ela não sabia falar. Ela era burra de dar dó. Não era mistério ou genialidade aquele silêncio. Ela não dizia nada porque não sabia.
Não tinha nada disso de “me contar o dia”, ela guardava, sábia e tão misteriosa, sua enfadonha rotina para si. Às vezes, só para testar se era isso mesmo, se eu era mesmo esse cara sortudo que acertou na mega-sena, eu perguntava: “como foi seu dia”. Como se eu me beliscasse pra ver se estava sonhando, sabe? E ela, preguiçosa, sabendo profundamente como manter uma relação saudável e plena, só balançava a cabeça, em desacordo com a pergunta: “o de sempre”.
Sim, mil vezes sim, os dias de todas as mulheres que eu tive eram sempre “o de sempre” mas todas sempre me contaram detalhes insuportáveis e longos desse sempre, sempre, todos os dias, pra sempre. E sempre acabava em choro, traição, culpa. Mas era isso ou assassinato.
Nani transformou toda e qualquer mulher em megeras histéricas com matracas incontroláveis. Eu via fêmeas de todas as idades, credos, cores e tamanhos pelas ruas e supermercados e restaurantes e no trabalho, e pensava: inimigas. Todas, com suas vozes infinitas em looping: inimigas extremas. Apenas Nani: deusa. Apenas Nani: eterna. Fui ininterruptamente fiel por longos oito meses.
Nani não puxava assunto, como todas. Não discordava apenas pelo prazer em deixar claro que concordar com um homem era passividade, como todas.Não saia do cinema tentando intelectualizar milhares de sentimentos, como todas. Cinema era pra sair quietão, só sentindo o momento. E Nani, tal qual um melhor amigo com vagina, sabia todos os segredos para agradar um homem em sua essência.
Um dia, eu estava angustiado. Eu queria falar com alguém, eram já 32 semanas no mais completo silêncio. Na mais completa harmonia. Eu nunca tinha sido tão feliz mas, naquele dia, naquela misero dia, eu estava angustiado por alguma razão e precisava falar. E perguntei pra Nani algo como “o que você acha?”. Eu não sabia exatamente ao que me referia. Ou melhor, eu sabia: a tudo. Sabe tudo? Essa merda toda: o que você acha dessa merda toda? Geralmente angustia é isso né? Você procura uma palavra que acalme e/ou defina a porra toda e como ela não existe você bebe ou toma Rivotril.
Nani, pra me agradar, tadinha, tentou falar. Mas ela não sabia falar. Ela era burra de dar dó. Não era mistério ou genialidade aquele silêncio. Ela não dizia nada porque não sabia.
Texto extraído do livro "Meu Passado me Condena" Tati Bernardi
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