COMIGO

Acho tão ruim ter que fingir.
Fingir que estou num dia bom, sorrir, falar abobrinhas e ser agradável.
Têm dias que tudo que quero é ficar em casa, escondida do mundo, de pijama, descabelada, comendo um pacote de bombons e deixar o telefone desligado.
Ler um livro, assistir um filme, não ler livro algum, não ver nada na televisão.
Ficar de pernas pro ar. Sozinha com os pensamentos. Dar corda para a imaginação.
Criar historinhas. Ser insana. Sórdida.
 Colocar o lado mau pra fora. Ser frágil.
Chorar com a cabeça embaixo do travesseiro.
Beber uma garrafa inteira de vinho,
ficar com as bochechas rosadas e encher os ouvidos da melhor amiga.
Em alguns dias dá vontade de sumir, fugir, dar no pé, se mandar,
escafeder mesmo. Ficar perdida em devaneios.
Imaginar uma outra vida ou não imaginar coisa alguma.
Clarissa Corrêa

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