VENDAVAL

É vendaval, é ventania roubando a calma e sacudindo as velas do velho barco em alto mar. 

Em meio ao clima tropical, o vento veio forte, trazendo a escuridão para um céu que estava levemente alaranjado. Choveu por dentro o desalento, a dor, o desapontamento.

Mas, a necessidade de afirmar para si mesmo que queria ser livre, ter asas soltas e viver sem gaiolas. Como se alguém pudesse lhe roubar isso.

As palavras cortavam como navalhas.

Com cuidado, a dor foi recolhida e guardada dentro de uma caixinha, para mais tarde ser esmiuçada.

Em alto mar, ventania se foi, vendaval acalmou. A paz, o toque, a tez se fizeram presentes. E novamente foram expostos argumentos que talvez não fossem fazer sentido, mas que estavam ali passeando nos lábios que proferiam discursos sobre não dar um passo que as pernas não pudessem aguentar, sobre sentir-se bem em sua solitude, sobre as pupilas dilatadas, sobre seletividade, sobre privilégios, sobre laços, sobre criar vínculos e da vontade de ser diferente, de não sentir o que lhe atravessava o peito. 

No entanto, era assim a sua natureza, precisava lidar com o peso de ser quem é...

E como se estivesse num tribunal fazendo sua defesa, desejava apenas viver o momento, ir com a alma e foi.

A dor adormecida foi outrora retirada daquela caixinha e cuidadosamente foi esmiuçada. Choveu por dentro, coração tropeçou, corpo estremeceu, pele arrepiou. O vendaval a castigava a cada minuto que questionava o que havia de errado..

E não, não havia nada de errado, mas doía porque não fazia parte do roteiro.

No roteiro, a liberdade e a solitude não estavam abertas para negociações, mas isso parecia não estar claro.

O terreno tornou-se pedregoso, perigoso e deslizante. Terras desconhecidas...

É impossível lutar contra a própria natureza. E, se for preciso fazer escolhas, escolha sempre a sua natureza. Porque com ela estão seus valores, sua história, suas pegadas, suas bagagens e a forma como você constrói as relações. Nunca foi sobre rótulos, sempre foi sobre viver o momento com leveza.

                                                                                                       An4 + do Que Nunca

Comentários

Anônimo disse…
Viver o momento é o que há de melhor...mesmo que mais tarde seja apenas dor! Adoro a forma singela como escreve sobre o que sente...

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