VULNERÁVEL


Tirou-lhe o chão e o controle da situação. Incendiou, indagou, a observou fixamente. A empurrou contra a parede, pediu coragem, aquela escassa, sufocada pelo ego e pelo costume de esperar e receber.

A 100km/h tentava formular algo sobre conexão, faltou palavras. A voz trêmula, maçãs do rosto queimando, os olhos atentos e o coração teimoso, louco pra fugir do peito. Inexplicavelmente vulnerável, com as fraturas expostas, longe de sua carapaça, sem rodeios, sem rédeas ou redomas, sentia a lança da intimidação atravessar-lhe o peito. 

Com a desesperadora sensação de tempo findando sem que a coragem chegasse a tempo de se permitir viver ao menos uma vez o que outrora negou. Mas demandava “medo”, o temido medo do não, da rejeição, do excesso de interpretações.

Na vã tentativa de justificar seu silêncio, agarrava-se às frases soltas das músicas que cantarolava em voz alta. “Posso passar na tua casa com essa minha cara lavada de quem não sabe o que dizer?” ou talvez “sou fraco, frágil e estúpida pra falar de amor!”, ou arriscando ainda mais, “me beija com raiva!”. Frases soltas que talvez pudessem, não que devessem dizer o que só ela poderia... 

Ao passo que, alimentava a esperança de não findar aquele momento, era esmagada pelo julgamento do ego que lhe trazia uma vontade de sumir dalí. Dirigindo a 10km/h passou do destino, deu ré, pensou, e já sem ter pra onde ir perguntou: “posso te beijar?”

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