VAI FICAR TUDO BEM.

O tilintar das unhas na xícara.
Buzina de algodão doce ao longe.
Aquela ânsia sangrada no banheiro.
O rato limpo se alimentando na mesa.
A perna cruzada, o corpo encurvado, mãos juntas.
Ondas nas unhas, barulho de mar.
Blusa de lã, arcaica, reviver.
Telefonar, ficar só no sofá.
Pensar na dura vida sentada na dura cadeira, nada mais é verdade fora as coisas inventadas.
Motor da geladeira, barulhos das teclas.
Pessoas pequenas.
Pequenas peças.
Quebra cabeça, não há como voltar e escrever diferente.
Primeira coisa não publicada, não anunciada.
Disseram que morrer é fácil, preferi então ficar aqui e tentar, mais uma vez, eu disse.

Eu tenho é uma saudade absurda do teu sorriso ou da tua raiva da minha inconseqüência quando menina.
Perdida.
Você me encontrou lá na porta do abismo e caminhamos juntos, subimos as escadas até o quinto andar, pensamos em nos jogar, planejamos, mas nos lembramos de nossas mães.

I don’t Love anymore... (?)

Eu te amo todos os dias cada vez mais.
Eu amo todas as coisas que você me ensinou e levo adiante.
“Não quebres jamais os teus invólucros...”

As cicatrizes da corrida na Sé ainda estão no meu joelho, daquela noite fria no interior em que explodia um eletrônico atrás de nós e a fumaça do seu cigarro impedia de sentir o cheiro da noite, mas ouvia as tuas tristes e belas palavras.
O que restou foi solidão, mas uma solidão acompanhada de nós.

Estes são os dias mais solitários da minha vida!

E talvez são por saber se eu quiser falar aos milhares de pessoas que conheço, todos me escutarão, mas ao mesmo tempo brotará uma coisa chamada dó. Esse repugnante sentimento que é detestável, pois é como se o outro não fosse capaz de sair da situação em que entrou...

Eu,
Só.
Entrei em mim e não sei sair...

O estalo dos dedos, das idéias, ler uma história igual com personagens diferentes.
A multidão de tudo, eu no meio, me reconheço, mesmo assim, me separo.
Não eu nunca serei o ideal de ninguém porque ainda não aprendi a negar os meus princípios.
E se por um momento eu for é porque ainda não sou engano.
E tudo vai assim passando enquanto estou parada. Mas passo no momento em que as coisas ficam.

Nem uma mudança.

Eu não posso tentar entender a loucura de ninguém se eu mesma não entendo as minhas simplicidades que às vezes soam tão complexas.

Eu tenho é saudade de quando falávamos, falávamos, mas sempre chegávamos a algum lugar...

Você chegou primeiro, logo me vi. Vivi, vivemos.
É algo passado, criado, eu vivi na redoma como uma flor e agora não sei mais.
Você tentava me proteger debaixo das tuas asas, sim eu estava segura e ainda com a venda nos olhos, a qual arranquei num acesso de fúria na primeira queda, a claridade era terrível e me afetava, até que me adaptei...

E todas as vezes que tentam vendar os meus olhos revido, devolvo, não quero.
Aliás, ando devolvendo todas as coisas que me dão se não no mesmo impulso, por vezes com sutileza.
Estou viva e respondo assim aos estímulos que a vida me dá como se fosse os ratos de Skinner em suas experiências psicológicas.

Mas não... Isso é pouco, quanta experiência e nenhuma conclusão.

Sombra da caneta.
Cadernos empilhados.
Conceitos amontoados.
Pés e mãos geladas.

Eu me canso de coisas sem sentido, irreais, bonitas por fora e podres por dentro, preciso de objetivos concretos, sem eles tudo é vago demais, mesmo que sejam ilusórios, preciso.

Eu sei de você.
Esteve assim também, lá na estação de trem, onde me pus a derramar as derradeiras lágrimas e ainda lembrou-se de mim naquela vaga mensagem ácida.
Eu te amo da forma como nunca mais amarei ninguém e sabes disso, que é parte e que sei que tudo que me disse dentro do nosso objetivo ilusório era verdade, que fui parte, quase todo e que era tarde,

Apanhamos da saudade,
Da nossa falta.
Não encontrei ninguém que entendesse a intensidade do meu âmago.
Na verdade não procurei.
Talvez não procurei por saber que não encontraria.
É como diz mesmo o nosso Caio F.: “Um encontro sem procura é tão inútil quanto a procura sem encontro”...

Aquela tarde com as senhorinhas na igreja rezando.
Aquela noite estranha de desencontro.
Os meus atrasos que te deixavam bravos. O inverso me aconteceu.
Mas a gente esquecia e se jogava, conhecia, dividia...
A tua dor falava em alto e bom som e talvez eu não fosse capaz de entender e agora a minha fala também...

Fale-me sobre o seu dia!

Não, não se pode voltar, mas também não se pode transformar tudo em algo banal, vivemos.

Chorávamos e nos consolávamos, nós e nossa dor.
E de manhã a claridade entrava pela janela enquanto você dizia:

-Vai ficar tudo bem.

An4 Mais do Que Nunca.

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