INDIFERENÇA


Foi assim como uma espera interminável, jogada sobre as molas cobertas de espuma. Sonolenta.

Vez ou outra abria os olhos, mas não vinha, não vinha nunca, pensou!

Dormiu.

Foi assim como uma punhalada, como novamente perder o chão, a cor, como aquela ressaca das ondas sobre as pedras derretidas.

Foi como rasgar o manto de alegria que a cobria.

Ultimamente nada lhe deixava tão insatisfeita como a maldita inconstância alheia. Antes era indiferente a esse comportamento, mas conforme ficava mais próxima o incômodo também lhe preenchia os espaços.

Não adiantava, não havia nada que a fizesse esconder isso!

Vontade de sumir, por alguns minutos apenas.

Ódio cortando tudo por dentro, e dessa vez não era de si mesma; ja havia feito o que estava ao seu alcance.

As cartas "valor" e "integridade" ja estavam na mesa.

Não queria acreditar ou aceitar o que estava vendo, sentindo...

Precisou de provas, de espelho...

Como manter um diálogo com uma pessoa que lhe provoca ânsia e mais do que isso, tédio?

Pensou ser um desequilíbrio ou uma auto-afirmação, mas nada explicava essa coisa entalada, além disso não queria se enganar ou se sabotar outra vez.
Também não iria jurar que era a última vez que chorava, estava viva, sentia isso, e ainda derramaria muitas lágrimas.

Por algumas vezes anestesiou sua dor, envolvendo-se com a própria dor.

Esquecimento?
Lapso de memória?
Amnésia?
Até ela esqueceu o que disse.

Pensava que a maior dor na verdade é ser indiferente quando tudo que se quer é estar presente.

Mas estar presente custava caro!

Logo aparecia uma barreira!
Isso era quase a regra de tudo em sua vida.
Quando tudo estava indo bem aparecia uma dor que latejava. Torturava.

Havia indiferença e distancia involuntária; voluntária.

São coisas da vida mesmo! Pensava.

Conformação; Adaptação.

As pessoas vão assim vivendo, crescendo opostamente.
Cada vez que se percebe mais, mais fica distante ou vice-versa.
Cada um no seu ritmo, no seu momento.
Aí vai restando só a lembrança e por vezes, nostalgia.

Nos braços da dor! La estava ela se entregando; mulher com olhos úmidos da despedida que fazia silenciosa.

Doía ser indiferente, mas era.
Não havia outra escolha e nem como remendar os cacos todas as vezes que se espatifavam;

Definição? Também não.

Era algo que ao passo que preenchia seu ser com citações e canções noturnas, conseguia destruir tudo em poucos segundos, da maneira mais mesquinha possível.

Um lapso de memória talvez!

Parou por um instante e respondeu uma mensagem com as seguintes palavras: "Exatamente agora não estou bem, mas nada que não posso superar. Faz parte do meu show."

Dramatizou.

Não procurou mais as razões, os motivos, os porquês. Não havia nada mais.

Pensou; penou, pena.

                           Ana Mais do Que Nunca

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