PELA METADE
Tropeçando,
perdendo-se no meio das explicações que ficam pela metade do caminho que tenta percorrer.
A procura pela tinta que cobrirá aquele espaço onde serão colocadas algumas memórias.
As tentativas vãs de acender a luz, abrir a janela ou a porta pra circular o vento, a energia...
Nada foi imposto,
nada prometido,
nada acordado até o momento em que por diversas vezes os cacos foram recolhidos do chão empoeirado,
pisoteado pelos sapatos cobertos de barro.
Uma imagem longe deixando para trás ou em qualquer lugar alguma coisa...
Conceitos,
valores que de nada valem,
resumidos ao pó, igualados, mesmo tratamento, mesmo toque, mesmo olhar, mesmo beijo, frases feitas, mesmo tudo para todos assim nessa coisa que chamamos de vida, se aprofunda nesse labirinto, cobertos pelo arame, pela lã, pela teia, pelo linho...
Um bebida quebrada, um carnaval desfeito, uma fotografia brilhante de peculiaridades que se tornariam banais, iguais, comuns.
E ja nem saber mais se dói ou se faz cócegas esse pensamento, esse contexto, esse sentimento, essa realidade.
Uma indiferença no meio da avenida da cidade grande iluminada por faróis que cegam as vistas e que enfraquecem as almas ressaltando aquele desanimo antigo, de não mais querer, de não mais envolver, de não mais atribuir tempo na construção de uma perfeição, de um patamar, de um respeito, de um castelo que dentro de 24 horas é destruído com palavras que nem precisariam ser ditas ou que precisariam ser colocadas na mesa assim como o pão e o cálice e as trinta moedas, mas a dor que não existe insiste em bater a porta e cobrar o aluguel daquilo que lhe convem.
As cortinas vermelhas ainda não foram abertas, atrás delas os corpos se encontram, se encaixam, prevalece na boca o gosto doce de contini e nos olhos as imagens da renascença...
O que significa sentar nas estátuas espalhadas nas ruas e as luzes amareladas impressas nas fotografias daquele predio antigo? Só momento, só, momento, apenas e só.
As regras sem exceção banalizando a vida, as veias pulsando cada vez mais forte, como que em protesto de não aceitar, não desejar, não querer mais isso, ou querer, a morte.
É trocar a capacidade de exaltar, fazer valer, mostrar a vida, por uma coisa torpe, uma coisa reduzida, mesquinha.
É quase morrer vivendo, negar a si mesmo, coisas inaceitáveis.
A fratura exposta aprende a curar-se ... Um dia. quem sabe.?
através das costas largas dava pra enxergar os olhos que tentavam fugir, e que nessa tentativa de fuga feria com palavras e ações, sob efeito das dores que não foram curadas, antigas.
Cobre com esse manto aveludado, com palavras doces, com carinhos alheios, mulheres, mãos, dedos, seios, boca, língua tudo aquilo que não concluiu outrora, no momento da aproximação maior, no momento de interiorizar, joga água na poeira, deixa diminuir a intensidade pra esfregar as mãos sob o rosto alheio, persuadir então, fazer pensar: nada aconteceu, enquanto as crateras imensas na mesma proporção que um dia foram causadas são abertas hoje na vida dos outros anjos, demônios...
Uma noite de sono agradável, o dia festivo entrando pela janela como em claridade, um compartilhar partido em mil pedaços milhões de segundos após.
As musicas, as letras, a liberdade?
Até que ponto existe liberdade?
Não, não se pode aceitar a idéia de que tudo e todos são iguais, é preciso sentir que alguém é mais, e que esse alguém tem alguém também que é mais, pra que haja não um sentido, mas uma motivação das ações, algo que se diga "fiz porque é importante"...
Mas se nada toca, nada muda, nada fere, nada espanta, nada motiva, nada arranca um sorriso ou um pedaço da alma, haverá também decepção, não por ilusão, mas por não ver, não sentir calor, sentir o corpo anestesiado: a vida morta...
A decepção vem de braços dados com a desistência de tudo aquilo que outrora tentou transformar, tocar e não conseguiu.
Mas ainda a alma não aceita a idéia da desistência, nem da banalidade, nem da fuga, nem dos mil pedaços ao chão, não, nem que as fraquezas levem à morte um caminhar jovem embora já com rugas de preocupações... Não aceita que os braços pesem e nem que essas idéias não possam ser impressas em letras garrafais mesmo após algumas décadas.
Se não há sabedoria pra aproveitar o amor, que haja sabedoria então pra aproveitar enquanto há ódio, pois haverá um tempo que somente reinará indiferença.
Ana Mais do Que Nunca
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