Viagem

A tarde estava quente e o corpo precisava de algum alimento pra continuar de pé, os ponteiros corriam, muito, como se estivessem disputando algum prémio, então avistou o reflexo do sol naqueles olhos claros que procuravam por alguém...

Era tarde e mesmo por estar quente o vento batia forte nos rostos dispostos a viver aquela proposta...

Então os sorrisos sairam estrondosos porque a garçonete os encarara, porque o sol os encarara, porque todos não paravam de encarar...

'-Aí eu parti para o contra-ataque..."

"-O que é o contra-ataque?"

"-É quando o time adversário vem pra fazer gol e a gente parte pra cima..."

"-Ah! Então contra-ataque é quando você parte pra cima? Entendi!"

"-É quase isso.."

Mas a cor da tarde era quase noite e numa viagem quase inacabavel chegaram ao destino, escurecia e sentaram-se na grama, crianças jogavam bola, pessoas corriam, andavam, o parque estava bem movimentado, lembrou-se de um ser dentro do ser do parque...

Alguém teve vergonha de abraçar uma árvore, isso não é comum...riram...

Leram infinidades de palavras, não existiam vírgulas nem ponto nem nada e quase era de se perder o folego...

Compartilharam a solidão em comum, as idéias, e dividiram o espaço de uma fotografia...
Mas ja escurecia e não se enxergava mais as palavras, caminharam ao novo destino, outra viagem...

O movimento da cidade grande é muito diferente da vida no interior né?

Mas encanta, são tantas luzes, carros, pessoas, liberdade...e cerveja, muita cerveja, as que fizeram enxergar o quanto as pessoas a frente podem estar alí bastante enthedhiadhas...

Mas as piadas, as expressoes, os trechos perdidos do Uivo escolhidos alí, lidos na hora, saídos do forno, aquela carne dura que tava uma delicia (credo!) e confissões...

Noite adentro, pessoas conhecidos, a felicidade invadindo os espaços das faces, dos corações, das almas, intenso, intenso! Como Madrugada...

Então antes de um chá, uma porçãozinha de mais palavras, que não eram só palavras, era vida, idéia, realidade querendo ser expressada em forma de palavras, as lágrimas que escorriam...

"-Não estou chorando de tristeza, não se preocupe, choro porque é bonito..."

E tudo foi colocado alí naquela mesinha de mármore, os sentimentos mais claros que aquela água límpida da manhã de sol nascente, e o desapego, a liberdade a não cobrança, a confissão da alma, o zelo, o carinho e o amor que cativara...

De repente, um sono, profundo, profundo, preenchendo todo o ser de baixo pra cima, de cima pra baixo, amolecendo o corpo, a alma como se fosse toda aquela intensidade guardada que ainda fazia ficar acordada, ou pelo menos tentar e quanto mais tentava falar, menos saía, ja havia falado o suficiente...

O outro achando engraçado,a lenda de terror de algum lugar pra descansar... Não havia...

Mesmo depois de mais uma viagem, conseguiram descansar, dividiram-se inteiros, cansados, mas ainda havia viagens a serem feitas...

E o sol batendo na cara, de novo! Dividiram um café, uma viagem de trem, de ônibus, a pé...

De pé na parte mais alta daquela cidade maravilhosa, a igreja, as ruas, as casas, as pessoas, tudo muito surreal, até mesmo aquelas duas pessoas alí, que até pouco tempo atrás nem se conheciam e já haviam vivido tantas coisas...

Andaram, andaram, andaram, acharam coisas belas, diviram várias vezes o espaço das fotografias, o espaço daquela paisagem que preenchiam aqueles olhares, era surreal como pensavam...reviveram a infância naquelas balanças de pré escola, dançaram, correram, pularam, tiveram medo de altura, almoçaram, se cansaram, assistiram jogo de futebol, riram por não existir coca-cola na cidade...deitaram na grama, viram flores, cachorros, fusquinhas, casinhas antigas, bilheteria retrô, teatro vazio, exposições...Abriram os braços pra liberdade, como eram livres ...

Então todo aquele sol, aquela claridade foi substituída por uma neblina branquinha que era tão bem vinda quanto o friozinho que a acompanhava...e a noite substituindo aquela tarde quente, e o quase medo do principe na ponte, segurando firme com medo de cair, la em baixo a maria fumaça antiga, antiga e fotos tentando registrar tudo...

De repende no veículo que os levaria de volta aos seus lugares, não haviam mais palavras que definissem o que viveram naquelas 24 horas e pouco, não haviam frases que descrevessem tudo aquilo que era intenso de mais e por não estarem distraídos não deram nomes...

Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para entendê-las!

Houve a despedida, não triste, necessária, mas a saudade latejando cada passo que davam rumo às suas casas, ficou o momento vivido no coração, na mente e na eternidade de cada um...


Ana Mais do Que Nunca!

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